Era uma vez uma flor escondida na floresta.
Ela não se mostrava a qualquer um.
Abria suas pétalas apenas a quem a interessasse e isso, acredite, era da parte dela puro interesse.
Ali vivia ela reclusa em seus pensamentos quando inesperadamente um grande monstro de cor amarelada veio em sua direção e destruindo toda a floresta deixou-a em exposição direta ao sol.
Por ali começaram a passar grandes serpentes que cobriram enormes distâncias e carregavam veneno mortal. Aquela exposição repentina quase a matou.
Como poderia ela repensar toda sua existência em tão pouco tempo?
O sol agora cegava seus olhos e queimava sua folhagem.
Não havia mais tempo.
Mas certo dia, ainda em tempo,  surgiu um ser alienígena de botas brancas e a ceifou daquele tormento.
Ela, que era tão pequenina e não se mostrava a quase ninguém além daqueles a quem o fazia por puro interesse, abriu suas pétalas e a ele se entregou.

Catasetum trulla resgatado na linha do oleoduto

...sempre presente


O mar se curvava diante dela.
Nos seus dias de glória fitava da torre mais alta de seu castelo encantado o horizonte distante.
E o oceano era lindo.
Mas um dia veio a tempestade, seu castelo ruiu e ela foi lançada no abismo.
Os vermes a atacaram e seu manto de realeza se reduziu em farrapos, mas sua esperança não foi destruída.
Um dia um cavaleiro com suas botas brancas, acompanhado de seu fiel escudeiro, a viu quase nua, caída entre as pedras, quase sem vida e a resgatou.
Levou-a para um novo castelo e ela novamente floriu.

Cattleya guttata resgatada na floresta depois da tempestade que mexeu o mar

...sempre presente

Salada de Flores


Catasetuns!
São breves, quase um relâmpago. Se a gente deixa por uns dias de ir ao orquidário não encontrará mais nada ao chegar além de uma haste seca.

Deveriam durar mais! 
Mas se assim fosse, que diferença faria se fossem de plástico pra durar para sempre, ou quem sabe só cinquenta anos como uma sacolinha de supermercado?
Será que a sacolinha dura tudo isso?
Vou enterrar uma e voltar em cinco décadas pra confirmar. Depois eu conto, num causo, crônica ou conto.

Catasetuns! Não me lembro de perfume algum, mas que são exóticos, isso eles são.
Na maioria brasileiros e quase que na totalidade latinos eles são mais facilmente encontrados à venda exatamente lá fora, bem longe, de onde a gente nem tem condições de trazê-los. Pura ironia?
Acho que lá fora dão mais valor ao que tem aqui dentro.
Esse aí é uma salada - orchidglade, expansum e schimidtianum. E deu nisso.

Bem, e para o fato de as flores durarem poucos dias descobri uma solução que resolve, no meu caso, a questão. É ter deles um montão. Simples assim! - diria ela.
Mas também diria - Pra que tanta roupa se eu só tenho um corpo? rs




Método para Semeadura de Sementes de Orquídeas

Há pouco menos de 100 anos, em 1922, um americano, o professor Lewis Knudson, descobriu uma forma artificial de promover a germinação das minúsculas sementes das orquídeas. Assim nascia a semeadura em meio assimbiótico.
Até então na natureza as sementes das orquídeas precisavam de uma relação simbiótica com um fungo de nome micorrizo para poderem germinar.
Ainda hoje a grande maioria dos orquidófilos não domina, mas conhece esta cobiçada técnica, por causa dos investimentos em equipamentos para realizá-la, embora muita gente já tenha construído sobre ela.
Nesta publicação eu detalho o procedimento que desenvolvi (construído sobre os métodos e procedimentos já conhecidos) na intenção de facilitar ao máximo a semeadura em casa e que se mostrou muito simples de ser executado utilizando equipamentos de fácil aquisição a um custo muito pequeno. Eu ia batizá-lo com o nome de “Super Método Facilitado para Semeadura de Orquídeas em Meio Assimbiótico com Seringa e Agulha de Grosso Calibre em Ambiente Não Controlado”, mas esse nome me pareceu um pouco grande, então decidi chama-lo simplesmente de “Método JRG” para Semeadura in Vitro, ...Mas na verdade acho que o nome não faz a menor diferença. rs

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Método JRG para Semeadura in Vitro de Orquídeas

O Método JRG foi desenvolvido para que qualquer pessoa dedicada e cuidadosa, além de amante de orquídeas, possa fazer a semeadura de suas próprias plantas.
Tudo começou assim. Certa noite ao abrir uma lata de massa de tomates retirando o lacre sobre a tampa e observando o ar entrar liberando-a foi que tive a luz sobre o detalhe que faz desse método bastante seguro em relação a contaminações. A tampa tinha um furo e pensei, de alguma forma, na operação inversa para realizar a semeadura com uma agulha bem grossa. Isso tudo aconteceu no início de 2010. A primeira semeadura foi um fracasso e isso de deveu a ineficaz desinfecção das sementes, mas serviu como aprendizado. As semeaduras posteriores foram todas bem sucedidas até o momento.

O que você precisa providenciar para iniciar o trabalho:

- cápsula de sementes ou sementes a serem semeadas já retiradas da cápsula sobre um papel toalha ou recipiente desinfetado com álcool



- 1 seringa descartável de 10ml
- 1 agulha hipodérmica de 1,2mm ou mais espessa
- 1 bastão de cola quente  




- vidro furado e selado com o meio de cultura pronto (Este é o diferencial deste método. A tampa do vidro deve ser furada num diâmetro que permita a introdução da agulha grossa)




- algodão




- álcool 92




- 2 copos (aproximadamente) de água para ser fervida em recipiente para ir ao fogo com tampa. Depois de fervida por 10 minutos a água deverá ser resfriada no próprio recipiente sem que seja aberto de forma alguma.




- 1 copo de água filtrada onde será adicionado o hipoclorito de sódio
-  copo graduado em ml



- água sanitária - hipoclorito de sódio – importante ser de ótima qualidade


- papel toalha


Escolha um local confortável e limpo. Eu desinfeto toda a bancada e os materiais com álcool.
A sugestão é que se faça sobre a pia da cozinha próximo ao fogão.
É importante não haver movimento de ar.




- ferva a água no recipiente com a tampa durante 10 minutos e aguarde esfriar sem abrir
- desinfete com álcool a bancada (pia ou mesa). Se necessário use toalha de papel, não de pano.
- desinfete com álcool as mãos
- desinfete com álcool as seringas dentro e fora com as agulhas
- umedeça com álcool 1 chumaço de algodão e deposite-o sobre o furo selado da tampa do vidro de cultura




- adicione 20ml de água sanitária no copo graduado e complete até 100ml com a água filtrada




- retire o êmbolo da seringa, molhe a borracha na solução de água sanitária e use-a para aderir às sementes.




- recoloque o êmbolo na seringa agora contendo as sementes e retire o ar até 1ml




- aspire a solução de água sanitária aproximadamente até 6ml e mais 2ml de ar
- durante 10 minutos agite a seringa suavemente mantendo o movimento das sementes na solução




- descanse a seringa com a agulha voltada para cima até que parte das sementes decante e a outra parte boie




- suavemente e sem balançar a seringa pressione o êmbolo com a agulha voltada para cima eliminando a solução com as sementes que boiaram (quase sempre são estéreis). Elimine toda água possível tomando cuidado para não eliminar as sementes que afundaram.




- desinfete a agulha com o algodão embebido em álcool




- agora abra a tampa do recipiente com água fervida e já fria e aspire a água para lavar as sementes até 6ml aproximadamente




- agite por 5 minutos ou mais
- descanse a seringa com a agulha voltada para cima e aguarde que as sementes decantem novamente




- elimine do mesmo modo anterior a água, deixando 1ml com as sementes




- desinfete a agulha com o algodão embebido em álcool que está sobre o vidro

- agite levemente a seringa para misturar as sementes a água (isso é importante para que o conteúdo todo seja transferido para o vidro)
- passe o algodão sobre o lacre do vidro e perfure-o com a agulha, injetando as sementes. (Comigo já aconteceu duas vezes de entupir a agulha no momento de furar a cola, mas isso pode ser resolvido girando a agulha ao furar a cola)




Nesse momento pode acontecer do vidro estar com baixa pressão e sugar as sementes voluntariamente
Casso contrário injete-as, mas não retire a agulha.
- agora pressione o algodão para deixá-lo o mais seco possível e coloque-o protegendo a agulha e o lacre pois o ar poderá entrar e assim passará pelo algodão sendo filtrado sem que aspire álcool junto.




-retire a agulha deixando o algodão sobre o orifício deixado pela agulha
- acenda a chama do fogão e aqueça a cola quente até derretê-la
- rapidamente retire o algodão e sele o orifício da tampa




-lacre em volta da tampa com um filme de pvc, desses utilizados em cozinha para selar alimentos. Isso dificultará a instalação e desenvolvimento de esporos de fungos no entorno da tampa, que poderão entrar no vidro. (Melhor já fazer isso antes da semeadura quando preparar o meio de cultura)

-sua semeadura está finalizada




- coloque os vidros em um local bem iluminado evitando a incidência direta de sol, por exemplo, uma janela.

Depois de algumas semanas as sementes deverão começar a ganhar a cor verde, o que significa que a semeadura deu certo e alguns meses depois o resultado será esse.



Quando retirar as plantas dos vidros e não tiver lugar pra colocar tanta planta pode mandar umas pra mim. rsrs




Construindo um "Orquidário"


Se você tem uma orquídea, ora, você tem uma orquídea.
Se você adquiriu outra orquídea, você tem duas orquídeas agora.
Mas se você, em menos de uma semana, comprou mais uma orquídea, você tem três orquídeas e um problema. Você provavelmente foi infectado pelo vírus da orquidofilia e essa “doença” pode ser grave e te levar a lugares nunca antes imaginados, a começar pelos orquidários, feiras e exposições. Além disso, vai ter de começar a pensar em construir seu próprio orquidário.
Nos casos extremos, quando menos esperar você se verá em pleno feriado ou final de semana, com água até os joelhos, subindo ou descendo cachoeiras, embrenhando-se pelo mata, fotografando orquídeas, bromélias, ripsalis e outras epífitas, fugindo da vida selvagem do meio urbano pra se tornar mais humano no meio do mato. Um riacho, o canto de algum pássaro, a névoa que cobre a trilha, a vista panorâmica no alto da montanha, pedras, abismos, paredões, chapadas, árvores repletas de vida verde, macacos, quatis, serpentes, tatus, insetos, rios, lagos, mar... Serão companhia nos seus próximos passeios, se não de verdade, pelo menos na vontade.
Pode ser que nada disso, de fato, aconteça, mas que você vai ter vontade, isso vai.
Então vamos ao tratamento.
Feito o diagnóstico, para controlar essa “doença” o primeiro passo é encontrar o espaço, o espaço do seu orquidário. E essa será a parte mais difícil.

Na verdade dificilmente a gente tem condição de construir um orquidário atendendo às necessidades das plantas em relação ao posicionamento do sol e assim por diante.
Normalmente adaptamos orquidário ao espaço que temos.
Fazemos um projeto, ainda que mental.
Depois será preciso escolher os materiais. Há orquidários feitos em alvenaria, madeira, aço... Mas na verdade todos os orquidários são feitos de imaginação.
No meu caso decidi por um material durável, de manutenção relativamente baixa e custo bem acessível, ou seja, o material que estava sobrando.
Para encontrá-lo, na verdade, visitei alguns Ferros-Velhos e trouxe pra casa uma porção de velhos canos galvanizados, daquele que ninguém mais usa, a menos que precise colocar uma antena em cima da casa pra poder ver melhor o Faustão.
(Aconselho a usar esse tempo pra cuidar das orquídeas, ok.)
Durante a construção problemas vão surgindo, e isso sempre, sempre acontece, mas soluções também.
Depois do projeto mental o primeiro passo foi medir e cortar o material



Como são canos de ferro foi necessário fazer dezenas de roscas e algumas soldas também.
Fazer roscas em canos não é pra qualquer um. O trabalho não é difícil embora exija algum conhecimento, mas a ferramenta é bem incomum, chama-se tarraxa.




Nem tudo pôde ser rosqueado por uma questão de aproveitamento de material, evitando adquirir mais itens. Todas as peças foram confeccionadas para o projeto priorizando o menor custo possível.
Um exemplo é essa peça de alumínio que faz a conexão entre o cano que fará a função coluna e o cano que fará a função de viga. É o aproveitamento de um pedaço de perfil de alumínio, sobra de outros projetos que foi cortado, dobrado e furado.


Note também o desgaste na ponta do cano da coluna para o perfeito encaixe entre os dois.

Como um dos lados da cobertura foi projetado para ser encostada na parede foi econômico apoiar este lado na própria parede como a imagem mostra a seguir.



Do outro lado cinco colunas fazem a sustentação e em cada uma delas foi feita uma pequena sapata na base.



Conforme o projeto vai sendo executado surgem também os desafios, por exemplo, como prender o sombrite na estrutura de canos.
E a solução foi costurar um material de sustentação (um cordão grosso) nas bordas para poder prender o tecido ao cano com tiras de arame.
Para isso foi desenvolvida essa agulha, ou algo parecido com uma. Funcionou bem.




Depois de costurado o fio na extensão toda, o sombrite foi fixado com arame galvanizado na estrutura.



Aqui o velho cano já recuperado e pintado com o detalhe de uma das oito conexões desse tipo.



Além de ser funcional precisa ficar bonito, então, uma gracinha não custa nada, ou quase nada.



Depois de montado, pintado e coberto ficou faltando definir como pendurar as plantas, pois nesse orquidário ficarão apenas as plantas penduradas que tomarão chuva.
A solução foi a madeira.




E a fixação dos sarrafos na cobertura foi feita com cabos de aço em três pontos.



Depois de todo o trabalho as plantas começaram a se mudar pra lá.

















Lc Semaphore


Eu sempre mantive as plantas organizadas e identificadas. Bem, sempre, sempre não.
Um dia a gente acaba relaxando em algum momento. 
Normalmente é assim, você faz tudo certo e as coisas vão caminhando como devem ir, mas um dia você faz alguma coisa errada, ou esquece de fazer algo e perde tudo o que já fez de bom até então.
Naquele dia eu vi algumas plaquinhas de identificação caídas e pensei - deixa pra depois! E o "depois" foi passando e algumas plantas foram perdidas em meio a multidão.
O tempo, ou a falta de, e um pouco de desleixo encarregaram-se do resto.
As plantas deixaram de florir.
Retomei os cuidados e a dedicação me deu esse presente.
Achei-a! rs


Laelia lobata

Um dia, e já faz dois anos, quando voltava de algum lugar, ou ia pra algum lugar, não sei ao certo, e nem sei que dia foi aquele dia, passei em frente uma casa e naquela casa havia um jardim - O jardim da dona Liliam. 
Eu não sabia ainda que esse era seu nome.
Parei e olhei essa bela orquídea, quase ao alcance da mão, fixada em um arbusto. Eram mais de vinte flores na touceira. 
Babei!
Limpei a baba e chamei.
Veio uma senhorinha baixinha, pretinha, magrinha, simpática que depois de conhecer a minha fascinação pela sua planta logo me ofereceu uma muda, antes mesmo que eu pedisse, e ainda mandou pegar com flor. rs
Confesso que me senti um explorador de velhinhas indefesas.
Mas peguei uma só muda sem exagerar na flor - Todas as pontas estavam floridas. rs
Prometi a ela que traria outra em troca e o fiz. 
Levei uma Laelia purpurata oculata do mesmo porte.
Boa gente a dona Lilian! 
Quando a encontro no mercado - sim, isso aconteceu algumas vezes - sempre mexo com ela, exceto dessa última vez em que estava com pressa. 
Assim, fiquei amigo da dona Lilian.
Minha planta floresceu e já passei por lá e vi que a dela também.
Eu acho que é uma Laelia lobata e seu perfume uma delícia.

Catasetum cernum




Por que as orquídeas se fixam nos altos galhos das maiores árvores?
Isso não é totalmente verdade, uma vez que elas o fazem nos galhos mais baixos também.
Mas se torna realidade quando por lá passa um homem, e esse homem leva consigo o que puder carregar.
Então, sobram as que escolheram ficar lá em cima.
Escolheram nada! 
O acaso as levou pra lá. E o acaso, nesse caso, chama-se vento.
A ventania espalha sementes. Ela as leva bem distante. 
Dizem que vão até para o lado de lá do mundo, sim, se a gente escolher pensar que aqui é o lado de cá.
E quando caem - as sementes - em um lugar oportuno, entre os galhos de uma bela árvore, elas germinam, crescem, e aí vem aquele homem e corta a árvore ou leva a orquídea embora.
Leva pra cuidar, leva pra vender... Não sei porque ele a leva.
Sei porque eu a levaria, se levasse, e quando a levo.
Essa caiu lá de cima. Ficou esperando eu passar.
E eu passei, e a salvei. Salvei da incerteza.